ah, como sou incompreendida!
se referem a mim como se soubessem
quem eu estou sendo hoje.
mas se nunca sequer quiseram
como hoje acham que sabem?
a minha dor só eu carreguei,
e eu tenho todo o direito
de me fazer de vítima
pelo menos uma vez.
os gritos que segurei,
só arranharam a minha garganta
e os choros que engoli
só embaraçaram meu peito
e os socos que mirei em mim
só marcaram minha pele
ninguém sentiu.
ninguém viu.
ninguém se importou.
e agora? agora acham que me controlam
agora acham que eu devo alguma coisa
e eu lá devo algo?
a não ser a mim mesma
a não ser tudo o que deixei escapar
como água passando por uma peneira
mal sabem, que minha boca selei
com mágoa? talvez.
podem me espremer
contorcer como um pano velho
mas não sangrarei mais.
não por vocês.