quarta-feira, 28 de agosto de 2019

não aprendi a lidar.

eu sempre pensei muito na morte
e quando eu digo muito, eu quero dizer muito
já passei horas e horas e horas, quando adolescente,
pensando e fantasiando sobre morte
tudo sobre a morte me fascinava
desde o fato de que a qualquer momento eu poderia morrer
e como deveria ser morrer
parar de existir.



quem iria no meu funeral?
eu sentiria dor?
quem choraria?
quem cumpriria os meus desejos?
basicamente, sempre pensei muito na morte
na minha morte.

Hoje, sete meses depois que minha vó morreu
minha primeira experiência com a verdadeira morte
eu sinto o peso de uma não-existência
Hoje, com 23 anos, penso na morte natural
e sinto, e parece que cada vez eu sinto mais e mais e mais
Uma presença sempre presente em minha vida
mesmo que por vezes distantes, mas sempre constante
mesmo que irritante, mas sempre importante
sempre lá, sempre aqui, mas agora o silêncio
e esse silêncio é o mais perturbador.

Ah, o silêncio.
Minha vó me ligava sempre, quase diariamente
para saber
"liguei pra saber", ela dizia
mas saber o que? Saber se eu estava bem, apenas
se eu comia, se eu bebia, se eu cuidava de mim mesma
Ah, vó.
A senhora me irritava, muito, com seu amor
com sua curiosidade, com suas ligações
me irrita bem mais a sua falta.
Hoje eu quero te ligar, para saber
mas não tenho o seu telefone.

o mais louco, é como eu ás vezes esqueço da morte
esqueço da senhora, da sua morte, da sua não-existência
e vivo a vida, vivendo, na inércia
mas sua voz grita em minha mente antes de dormir
ou a gente conversa em sonho
ou um doce
um cheiro
uma lembrança
qualquer coisa

e ai começa a doer, e sentir, e esvaziar
e ai eu choro
mas hoje não, hoje eu escrevo.