segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

pano velho

ah, como sou incompreendida!
se referem a mim como se soubessem 
quem eu estou sendo hoje.

mas se nunca sequer quiseram
como hoje acham que sabem?

a minha dor só eu carreguei, 
e eu tenho todo o direito 
de me fazer de vítima
pelo menos uma vez.

os gritos que segurei, 
só arranharam a minha garganta
e os choros que engoli 
só embaraçaram meu peito
e os socos que mirei em mim
só marcaram minha pele

ninguém sentiu.
ninguém viu.
ninguém se importou.

e agora? agora acham que me controlam
agora acham que eu devo alguma coisa
e eu lá devo algo?
a não ser a mim mesma
a não ser tudo o que deixei escapar 
como água passando por uma peneira

mal sabem, que minha boca selei
com mágoa? talvez. 
podem me espremer 
contorcer como um pano velho
mas não sangrarei mais. 
não por vocês.